Comparando as Crenças Sobre Peixes e Frangos e suas Relações com o Comportamento Positivo dos Animais em Todos os Países

Contexto

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, aproximadamente 69 bilhões de frangos foram abatidos somente em 2018. Nesse mesmo ano, os peixes abatidos em todo o mundo pesavam cerca de 100 milhões de toneladas. Muitos dos países que pesquisamos nesta linha de pesquisa – que inclui Brasil, Canadá, China, Índia e Estados Unidos contribuem em grande escala para o enorme sofrimento dos frangos e peixes. Por exemplo, a China, os Estados Unidos e o Brasil abateram mais frangos do que qualquer outro país em 2018, seguidos de perto pela Índia. Em termos de toneladas de peixes abatidos, a China lidera o ranking mundial, enquanto a Índia ficou em quarto lugar e os Estados Unidos em sexto. No total, os cinco países considerados nesta pesquisa são responsáveis por mais de 40% do abate global de frangos e mais de um quarto do abate global de peixes. 

Em todo o mundo, os defensores estão trabalhando para melhorar o bem-estar dos animais e para reduzir o consumo de produtos animais. Devido às diferenças culturais entre diferentes regiões, é importante que os defensores entendam o contexto no qual estão trabalhando, ao invés de assumir que as lições de uma parte do mundo podem ser aplicadas ao público de outra parte do mundo. Apesar das enormes quantidades de frangos e peixes abatidos por cada um desses países, não é necessariamente que seus residentes compartilharem crenças semelhantes sobre esses animais. Comparando as descobertas em nível nacional descritas em outras seções deste relatório, podemos observar semelhanças e diferenças nas crenças entre os países. Estas informações podem ser úteis para os defensores dos animais que trabalham em um contexto internacional. 

Principais Descobertas

1. As taxas básicas de comportamento pró-animal são maiores na Índia, China e Brasil do que nos Estados Unidos e Canadá. Os participantes dos EUA e do Canadá assumiram o compromisso de dieta e assinaram a petição de bem-estar com taxas muito mais baixas do que os participantes de outros países. No Brasil, China e Índia, pelo menos metade dos participantes estava disposta a realizar ações pró-animal.
2. Muitas crenças são consistentes entre países, mas diferenças importantes permanecem, ressaltando a necessidade de uma consideração cuidadosa aos contextos locais nas campanhas de defesa dos animais. Algumas crenças, incluindo “o peixe é bonito”, “os frangos podem sentir dor”, e outras, eram comuns em todos os países. Outras crenças foram frequentes somente em alguns países, como a crença de que os peixes são amorosos na Índia e no Brasil, ou que muitas granjas de frangos têm condições de vida horríveis nos Estados Unidos e na Índia.
3. Mesmo quando as crenças são semelhantes entre países, as correlações entre crenças e ações pró-animal podem não ser. As crenças dos participantes dos Estados Unidos tinham a média mais forte de associações com ações pró-animal em comparação com participantes de outros países, enquanto que os participantes indianos tinham as associações mais fracas. As associações de participantes brasileiros, chineses e canadenses se situaram no meio. Quanto mais forte a associação entre crenças e ações, mais provável é que os defensores que trabalham para influenciar as crenças tenham um efeito positivo sobre os comportamentos que queremos mudar.
4. As crenças sobre os peixes e sobre os frangos foram associadas de forma semelhante às ações pró-animal. Em outras palavras, as crenças podem ser igualmente importantes na mente das pessoas ao decidir se devem ou não tomar ações pró-animais, independentemente de estarem considerando frangos ou peixes.

Equipe de pesquisa

Este projeto é uma colaboração entre pesquisadores do Faunalytics and Mercy For Animals (MFA): Zach Wulderk, Jo Anderson e Tom Beggs do Faunalytics e Courtney Dillard, Walter Sanchez-Suarez e Sebastian Quaade do MFA. Estamos em dívida com Meredith Hui, Rashmit Arora, Diogo Fernandes e Vitor Clemente por sua assistência na tradução linguística e cultural, e com Cristina Mendonça, Meredith Hui e Nikunj Sharma por seus inestimáveis feedbacks.

Gostaríamos de agradecer ao CEA Animal Welfare Fund, à Culture and Animals Foundation e a um doador anônimo por financiar este trabalho, e à Tipping Point Private Foundation por financiar as traduções do relatório.

Projeto Do Estudo

Incluindo o primeiro relatório nesta linha de pesquisa, pesquisamos mais de 1.000 adultos cada um no Brasil, Canadá, China e Estados Unidos, e cerca de 900 na Índia. Em cada país, esses participantes foram divididos em dois grupos e solicitados a fornecer informações sobre suas crenças sobre peixes ou frangos. Então foi perguntado aos participantes se eles se comprometeriam a reduzir seu consumo deste animal e se assinariam uma petição pedindo melhores condições de vida e de abate. A única exceção a esta abordagem foi a China, onde, ao invés de lhes ser oferecida uma petição, foi perguntado aos participantes se eles apoiavam estas reformas de bem-estar. 

Além de determinar a semelhança de cada crença em nível de país, também calculamos correlações entre cada crença e as ações pró-animal que foram oferecidas aos participantes – isto é, fazer uma promessa de dieta ou assinar uma petição de bem-estar. 

Mais informações sobre os resultados para os participantes de cada país, bem como recomendações para os defensores dos animais, podem ser encontradas nos relatórios específicos de cada país.

Resultados

Como cada um dos países que pesquisamos é um ambiente único, as comparações entre eles podem ser limitadas no que podem revelar aos defensores dos animais. Ao invés de realizar análises estatísticas sobre grupos de pessoas que podem diferir consideravelmente de várias maneiras, examinamos uma quantidade de tendências de alto nível que mostram potenciais semelhanças e diferenças que os defensores – especialmente aqueles que trabalham além das fronteiras ou que esperam aplicar resultados não domésticos – podem utilizar para informar seu trabalho. Comparando comportamentos animais positivos, crenças comuns e as correlações entre eles em todos os países, podemos entender melhor quais tipos de mensagens podem ter ressonância com muitas populações e quais podem se aplicar apenas a algumas. 

Comportamentos Positivos para Animais

Tabela 1: Comportamentos Positivos para Animais por País

Notas. Os participantes chineses foram questionados sobre seu apoio de forma mais geral devido à improbabilidade de uma petição ser utilizada no contexto político chinês.

A maioria dos participantes indianos, chineses e brasileiros expressou a vontade de tomar ações pró-animal. Dentre os países pesquisados, os participantes indianos e chineses tiveram consistentemente os mais altos níveis de comportamento positivo em relação aos animais. Na Índia e na China, mais de dois terços dos participantes aceitaram as promessas de dieta, e cerca de três em cada quatro participantes indianos estavam dispostos a assinar as petições de bem-estar. Mais de dois terços dos participantes brasileiros estavam dispostos a assinar as petições, um pouco menos, mas ainda a maioria, estava disposta a aceitar as promessas de dieta. 

Os participantes do Canadá e dos Estados Unidos tinham menos probabilidades de apresentar comportamentos positivos para animais do que os da Índia, China, ou Brasil. Embora os participantes canadenses fossem mais propensos a tomar cada ação em comparação com os americanos, menos da metade dos entrevistados de ambos os países assinaram uma petição ou assumiram uma promessa de dieta. 

Dadas as proporções consideráveis dos participantes que aceitaram compromissos de dieta, os defensores que trabalham no Brasil, na China e na Índia podem encontrar uma abertura considerável para reduzir o consumo de frango e peixe entre o público em geral. O mesmo vale para os defensores no Brasil e na Índia que buscam assinaturas de petições de assistência social. Os defensores nos Estados Unidos e Canadá podem ter mais dificuldade em gerar esses comportamentos, mas poderiam enfatizar as principais crenças discutidas nos respectivos relatórios nacionais para conseguir mais adesão. 

Crenças Sobre Os Peixes

Várias crenças sobre os peixes foram mantidas consistentemente em todos os cinco países, enquanto outras eram típicas em alguns países, mas atípicas em outros. 

Em cada um dos países pesquisados, “O peixe é uma boa fonte de proteína” foi uma das duas crenças mais comuns. Outras crenças comuns incluem a beleza dos peixes, sua capacidade de comunicação e sua capacidade de sentir dor. A tabela 2 mostra onde cada uma dessas crenças foi classificada em termos de concordância para cada país pesquisado.

Tabela 2: Crenças Mais Comuns sobre os Peixes

Várias crenças eram consistentemente raras. Acima de tudo, poucos participantes acreditam que a qualidade da água não é importante para os peixes. Esta crença era uma das duas menos comuns em todos os países. Outras crenças incomuns eram que os peixes são grosseiros, nunca acham estressante ser capturados ou manuseados, não se importam com seus filhotes e não se importam com a superlotação. A tabela 3 mostra a classificação de cada uma dessas crenças em termos de concordância para cada país pesquisado. 

Tabela 3: Crenças Menos Comuns sobre os Peixes

Algumas crenças sobre os peixes eram comuns em alguns países, mas menos comuns em outros. As crenças de que “os peixes precisam de espaço para explorar e exercitar” e “os peixes agem principalmente por instinto” eram comuns em todos os países, exceto na Índia. Tanto no Brasil quanto na Índia, muitos participantes acreditavam que os peixes são amorosos, mas os participantes da China, Canadá e Estados Unidos eram muito menos propensos a manter essa crença. 

Tabela 4: Crenças Com a Maior Variação Por País

Crenças Sobre Os Frangos

A crença de que o frango é uma boa fonte de proteína foi uma das duas crenças mais comuns em todos os países. As crenças de que os frangos podem sentir dor, comunicar-se entre si, sentir emoções negativas como o medo e sentir estresse também estavam entre as crenças mais comuns em cada país pesquisado. A Tabela 5 mostra uma seleção de crenças dos frangos que foram comumente mantidas entre os participantes de cada país e onde essas crenças foram classificadas para os participantes de cada país.

Tabela 5: Crenças Mais Comuns sobre os Frangos

Independentemente do país, a crença de que os frangos não se importam com seus filhotes era rara. Outras crenças incomuns incluem que a qualidade do ar e da água não são tão importantes para os frangos, os frangos nunca acham estressante serem apanhados ou manuseados, os frangos são grosseiros e os frangos não têm personalidade. A tabela 6 mostra uma seleção de crenças sobre frangos com as quais relativamente poucos participantes de cada país concordaram.

Tabela 6: Crenças Menos Comuns sobre os Frangos

Embora haja um consenso geral entre os países sobre certas crenças relacionadas aos frangos, este não é o caso de todas as crenças sobre as quais perguntamos. Por exemplo, “frangos individuais não têm características únicas” era mais comum entre os participantes indianos do que entre os participantes de outros países. Por outro lado, “os frangos precisam de espaço para explorar e exercitar” era uma das crenças mais comuns em todos os países, exceto na Índia. 

Embora estas descobertas possam sugerir que os participantes indianos têm menos opiniões sobre os frangos do que os participantes de outros países, os participantes indianos também tinham menos probabilidade de acreditar que os frangos agem principalmente por instinto do que os outros países. Junto com os participantes americanos, eles também estavam mais propensos a concordar que muitas granjas de frangos têm condições de vida horríveis em comparação com os participantes de outros países. Algumas explicações possíveis para esta diferença são exploradas na seção Conclusões. 

Tabela 7: Crenças Com a Maior Variação Por País

Associações entre Crenças e Ações

Todas as crenças individuais sobre frangos e peixes podem ser organizadas em categorias: consumo, emoções, inteligência, personalidade, natureza social, sofrimento, e outras crenças. Por exemplo, “Os frangos são mais inteligentes do que as pessoas acham” é uma crença de inteligência, “Muitas fazendas de peixes têm condições de vida horríveis” é uma crença de sofrimento, e “O peixe é uma boa fonte de proteína” é uma crença de consumo.

Nesta seção, analisamos as correlações médias entre categorias de crenças e comportamento pró-animal, com o objetivo de fornecer uma visão das áreas nas quais os defensores poderiam se concentrar ao projetar pedidos para suas campanhas. 

Podemos também acrescentar mais contexto ao nosso entendimento, considerando estes resultados juntamente com a correlação média de cada país entre crenças e ações. A força da correlação média de cada país entre suas crenças e as ações pró-animais pode proporcionar uma visão da tratabilidade do foco nas crenças para encorajar essas ações. Em outras palavras, os residentes de países com correlações mais elevadas podem mostrar uma maior disposição para assinar uma petição ou assumir uma promessa de dieta quando se deparam com mensagens enfatizando algumas das crenças discutidas neste relatório quando comparados aos residentes de países com correlações mais baixas, onde obstáculos adicionais podem impedir essas ações. 

Promessa de Dieta de Peixe

Figura 1: Correlações Médias de Crenças de Peixe com a Promessa de Dieta de Peixe

Em média, os participantes dos EUA tinham as relações mais fortes entre as crenças e os compromissos com a dieta: ter crenças pró-animais tendia a ir junto com o comportamento do que nos outros países. Os participantes indianos geralmente tinham as associações mais fracas, enquanto os do Brasil, Canadá e China eram todos similares em sua força média de correlação. 

Estes resultados sugerem que os defensores que trabalham na Índia talvez não vejam muita diferença no compromisso da dieta de peixe com base nas crenças que eles destacam, enquanto os defensores que trabalham em outros países, especialmente nos EUA, podem ser capazes de assegurar mais compromissos, alavancando crenças. 

Tabela 8: Correlações de Categoria de Crença Média Com a Promessa de Dieta de Peixe

No nível da categoria, as crenças sobre as emoções, personalidades e sofrimento dos peixes tinham frequentemente as mais fortes correlações médias com a disposição de assumir o compromisso de dieta. As crenças sobre o consumo sempre tiveram uma das mais fracas correlações médias com a promessa da dieta dos peixes, com exceção da Índia. Entretanto, vale ressaltar que nenhuma das categorias de crenças tinha fortes correlações com os participantes indianos. Como os comportamentos pró-animal eram comuns entre os participantes indianos, os defensores na Índia podem não precisar alocar recursos para mensagens específicas a fim de assegurar compromissos de promessa de dieta ou assinaturas de petições. 

Assinaturas de Petições de Peixe

Figura 2: Correlações Médias de Crenças com Petições de Peixe

Notas. Os participantes chineses foram questionados sobre seu apoio de forma mais geral devido à improbabilidade de uma petição ser utilizada no contexto político chinês. A correlação média para esta medida de apoio foi de 0,05.

Os participantes do Canadá e dos EUA tinham correlações médias mais fortes entre suas crenças e assinaturas de petições de bem-estar dos peixes, enquanto os participantes brasileiros e indianos tinham relações mais fracas. Em outras palavras, os defensores que trabalham no Canadá ou nos Estados Unidos podem ver maiores mudanças no número de assinaturas de petições de bem-estar dos peixes que são capazes de obter ao enfatizar as crenças relacionadas aos peixes em comparação com os defensores no Brasil ou na Índia.

Tabela 9: Correlações da categoria Crença Média com Petição de Peixe

Notas. Os participantes chineses foram questionados sobre seu apoio de forma mais geral devido à improbabilidade de uma petição ser utilizada no contexto político chinês. Da correlação média mais forte para a mais fraca, as categorias de crença para apoio de frangos entre os participantes chineses foram Personalidade, Sofrimento, Emoções, Inteligência, Outros, Social e Consumo. 

Em nível de categoria, as crenças sobre emoções tinham as mais fortes correlações médias com as assinaturas de petições de bem-estar dos peixes no Brasil e no Canadá, mas estavam menos fortemente correlacionadas nos EUA, onde “outras crenças” e crenças de personalidade tinham associações mais fortes. O foco nestes tipos de crenças pode ajudar os defensores nestes países a obter assinaturas em petições para melhorar o bem-estar dos peixes. As crenças sobre o consumo tinham a correlação média mais fraca em cada país, exceto na Índia, onde as correlações eram consistentemente fracas. 

Promessa de Dieta de Frango

Figura 3: Correlações Médias de Crenças com a Promessa de Dieta de Frango

Os participantes americanos tinham a correlação média mais forte entre suas crenças sobre frangos e sua vontade de assumir o compromisso da dieta dos frangos, seguidos pelos participantes do Brasil e Canadá, e depois pelos participantes da Índia e China. Destacar certas crenças sobre frangos ao buscar compromissos com a dieta pode resultar em mais sucesso para os defensores nos Estados Unidos em particular. 

Tabela 10: Correlações de Categoria de Crença Média com a Promessa de Dieta de Frango

As crenças relacionadas às emoções dos frangos tiveram uma das mais altas correlações médias com a disposição de assumir o compromisso da dieta em cada país, exceto na Índia. No Canadá, Estados Unidos e China, as crenças de personalidade também estavam entre as categorias de crenças mais correlacionadas, enquanto as crenças relacionadas ao sofrimento tinham a correlação mais forte no Brasil. 

Com exceção da Índia, os defensores que trabalham nos países pesquisados podem criar campanhas similares que usam crenças sobre as emoções dos frangos para reduzir o consumo de frango. No entanto, os defensores também devem ter em mente que diferentes crenças individuais, discutidas nos relatórios específicos de cada país, podem ter associações mais fortes com o comportamento pró-animal em certos países. 

Como foi o caso com a promessa de dieta de peixe, os participantes indianos tinham a mais forte associação entre as crenças relacionadas ao consumo e a promessa de dieta de frango, embora as correlações fossem semelhantes e fracas em todas as categorias de crenças. 

Assinatura da Petição de Frango

Figura 4: Correlações Médias de Crenças com Petição de Frango

Notas. Os participantes chineses foram questionados sobre seu apoio de forma mais geral devido à improbabilidade de uma petição ser utilizada no contexto político chinês. A correlação média para esta medida de apoio foi de 0,07.

Os participantes canadenses e norte-americanos tiveram as mais fortes correlações médias entre suas crenças sobre frangos e a disposição de assinar o pedido de bem-estar dos frangos, enquanto os participantes brasileiros e indianos tinham correlações médias mais baixas. Os defensores nos Estados Unidos e Canadá podem querer considerar enfatizar crenças como aquelas relacionadas às emoções dos frangos em mensagens que promovem petições para melhorar o bem-estar dos frangos.

Tabela 11: Correlações da Categoria de Crença Média com Petição de Frango

Notas. Os participantes chineses foram questionados sobre seu apoio de forma mais geral devido à improbabilidade de uma petição ser utilizada no contexto político chinês. Da correlação média mais forte para a mais fraca, as categorias de crença para o apoio de frangos entre os participantes chineses foram Emoções, Social, Personalidade, Inteligência, Outros, Consumo e Sofrimento. 

Espelhando as correlações de promessa da dieta do frango, Brasil, Canadá e Estados Unidos tiveram todas as emoções relacionadas às suas mais fortes correlações médias com a assinatura da petição do frango. Os defensores desses países que estão procurando assinaturas para petições focadas na melhoria do bem-estar dos frangos podem se beneficiar da ênfase das emoções dos frangos em suas mensagens. No Brasil e nos Estados Unidos, as crenças sobre o sofrimento dos frangos tiveram a mais forte correlação média, a quais os defensores também podem querer considerar ao elaborar campanhas. Em contraste, as associações mais fortes dos participantes indianos com assinaturas de petições de frangos eram com a categoria “outras crenças” e crenças relacionadas ao consumo. Embora as correlações médias na Índia tendessem a ser mais fracas do que as de outros países, as crenças sobre o consumo tinham sempre uma das mais fortes relações com a disposição dos participantes indianos de tomar ações pró-animal. 

Conclusões

Em geral, os defensores podem esperar que a maioria das pessoas tenha certas crenças sobre frangos e peixes. A maioria das pessoas em todos os países acredita que os peixes são bonitos, podem se comunicar uns com os outros e sentir dor. Os frangos também são vistos em grande parte, como sendo capazes de sentir dor, comunicação e emoções negativas. 

Há também crenças que diferem muito entre países, como a crença de que os peixes precisam de espaço para explorar e se exercitar, o que era menos comum na Índia do que na maioria dos países que pesquisamos. Considerando quais crenças uma determinada população possui, deve ser uma consideração fundamental para qualquer defensor dos animais.

As crenças também têm diferentes relações com a ação entre os países. Os participantes do Canadá e dos Estados Unidos tiveram as mais altas correlações médias entre crenças e comportamento pró-animal. Em outras palavras, as pessoas desses países podem ser mais propensas a tomar ações positivas em relação aos animais com base em suas crenças.

Comparação Estados Unidos-Canadá

As crenças podem não ser um fator crítico para os defensores focarem no contexto indiano pelas razões descritas acima. No entanto, para os participantes do Canadá e dos Estados Unidos, as taxas de comportamentos animais positivos foram menores do que nos outros países que pesquisamos e suas correlações médias foram frequentemente mais altas. Embora os defensores desses países possam não receber tantas assinaturas de petições ou promessas de dieta como no Brasil, China ou Índia, eles podem ser capazes de diminuir a diferença usando mensagens que incorporam crenças com as mais fortes correlações. 

Embora os resultados desses dois países muitas vezes se assemelhem um ao outro, os defensores que trabalham nos dois lados da fronteira entre os EUA e o Canadá devem tomar nota de algumas diferenças importantes. Por exemplo, as crenças sobre o sofrimento do peixe foram mais fortemente correlacionadas com os compromissos para reduzir o consumo de peixe nos EUA do que no Canadá, sugerindo que os defensores podem ver uma maior aceitação de compromissos de dieta de peixe nos EUA do que no Canadá, mesmo quando usam a mesma mensagem. (Informações adicionais sobre os pontos fortes das correlações podem ser encontradas nas Tabelas 12-15 nos Materiais Suplementares ou nos relatórios específicos de cada país). 

No geral, as correlações médias entre crenças e assinaturas de petições foram muito semelhantes entre os participantes dos EUA e do Canadá. No entanto, as correlações médias dos canadenses para promessas de dieta são mais fracas do que as dos participantes dos EUA e, ao invés disso, se parecem mais com as correlações dos participantes brasileiros. Isto sugere que os defensores podem ver uma aceitação semelhante de assinaturas de petições nesses países vizinhos, mas que o mesmo pode não acontecer com as promessas de dieta. Em outras palavras, os defensores devem ter o cuidado de não assumir que as mesmas estratégias terão sempre os mesmos resultados em ambos os países.

O Que As Fracas Correlações Significam para os Defensores Indianos

Os participantes da Índia sempre tiveram correlações médias mais fracas do que os residentes de outros países. Como cerca de três quartos dos participantes indianos estavam dispostos a assumir um compromisso de dieta ou assinar uma petição de bem-estar, os defensores que trabalham na Índia poderiam considerar simplesmente pedir um compromisso ou assinatura ao invés de investir grandes porções de seus recursos no envio de mensagens de crenças particulares.

Petições de Bem-Estar vs. Promessas de Dieta

Em cada país em que a petição foi realizada, as assinaturas das petições de peixe foram mais comuns do que as promessas de dieta de peixe. O mesmo se aplica às assinaturas e compromissos de petição de frango, com exceção da Índia, onde o compromisso de frango era um pouco mais comum. Esta tendência geral sugere que as pessoas estão mais dispostas a demorar alguns segundos para assinar uma petição do que para fazer uma mudança mais ampla no estilo de vida. No Brasil e nos Estados Unidos, as correlações médias eram ligeiramente mais fortes entre crenças e promessas de dieta do que assinaturas de petições, o que poderia significar que enfatizar crenças produziria melhores resultados para os defensores que focam na redução do consumo de frango e peixe nesses países.

Ações Pró-Peixe versus ações Pró-Frango

Embora as ações pró-peixe tivessem correlações médias ligeiramente mais fortes do que as ações pró-peixe em cada país, estas diferenças são provavelmente insignificantes. Em outras palavras, as crenças têm associações semelhantes com ações que beneficiam tanto os peixes quanto os frangos. Uma exceção a isto é a promessa de dieta na China, onde os participantes tinham associações mais fortes entre crenças para a promessa de dieta de peixe do que para a promessa de dieta de frango.

Diferenças de Promessa de Dieta

No Brasil, a redução do consumo de frango foi a ação pró-animal com menor aceitação de longe. No Canadá e nos Estados Unidos, proporções semelhantes de participantes se comprometeram com as promessas de dieta de frango e peixe. Na China e na Índia, um pouco mais participantes estavam dispostos a assumir o compromisso da dieta de frango do que o compromisso da dieta de peixe. Estas descobertas são apenas um exemplo do porque os defensores que trabalham em um contexto internacional devem considerar diferenças culturais e dietas alimentares entre países ao determinar quais campanhas irão realizar: a abertura a certas ideias pode variar muito de um país para outro. As diferenças nas correlações entre crenças e ações pró-animal sublinham este ponto demonstrando como comportamentos similares podem ser associados a crenças muito diferentes.

Obstáculos aos Comportamentos Positivos para Animais

Os obstáculos às ações pró-animal também existem em todos os países e devem ser considerados ao projetar campanhas de defesa. Embora seja uma medida imperfeita, o PIB per capita é uma forma de quantificar a riqueza média dos cidadãos, e é consideravelmente maior em países como os EUA e Canadá do que em países como Brasil, China e Índia (CIA, 2020). As correlações entre crenças e ações podem ser maiores em países mais ricos porque suas populações têm acesso a recursos que podem não ser tão comuns em países menos ricos. Por exemplo, um residente dos EUA pode ser capaz de fazer escolhas de dietas baseadas em grande parte nas suas crenças sobre animais, porque fontes alternativas de proteína estão amplamente disponíveis. Este pode não ser o caso em todos os países. Da mesma forma, a criação de frangos de quintal pode ser mais comum em certos países e os residentes podem estar mais cautelosos a petições que poderiam resultar em mudanças nos regulamentos em torno deste tipo de prática. Em outras palavras, os defensores não devem apenas considerar quais mensagens poderiam gerar mais ação pró-animal, mas também quais barreiras podem existir para certas populações.

Direções Futuras

Há várias direções que a pesquisa futura sobre este tópico poderia tomar. Os pesquisadores poderiam explorar outros países e identificar tendências adicionais através deles. Investigações sobre diferentes animais ou diferentes conjuntos de crenças também poderiam ser benéficas para os defensores. Um maior contexto cultural para essas crenças e como elas podem afetar o comportamento pró-animal também é crítico para garantir que os defensores sejam capazes de ser tão eficazes quanto possível. Em uma escala ainda mais ampla, os resultados desta pesquisa destacam a necessidade de pesquisas específicas para cada país, a fim de garantir que as campanhas de defesa dos animais sejam tão eficazes quanto possível.

Materiais Suplementares

Resultados Detalhados da Categoria Crença

As tabelas 12 até 15 contêm os coeficientes de correlação média e os desvios padrões entre categorias de crenças e ações pró-animal por país. Os resultados estão ordenados da associação mais forte para a mais fraca.

Tabela 12: Classificações Detalhadas de Correlações de Categorias de Crenças Médias com a Promessa de Dieta de Peixe

Tabela 13: Classificações Detalhadas de Correlações de Categoria de Crença Média com Petição de Peixe

Tabela 14: Correlações Detalhadas das Categorias de Crenças Médias com a Promessa de Dieta de Frango

Tabela 15: Classificações detalhadas de correlações da categoria Crença Média com Petição de Frango

Distribuição dos Coeficientes de Correlação

As figuras 5 até 8 mostram a distribuição dos coeficientes de correlação entre as crenças individuais e a adesão à dieta ou à petição de bem-estar, com partes mais amplas de cada distribuição indicando mais respostas neste nível de correlação. As formas em cada figura revelam diferenças na consistência dos coeficientes de correlação entre os países. Os participantes da Índia, por exemplo, tendem a ser consistentemente baixos na força da correlação entre suas crenças e comportamento, especialmente quando comparados aos participantes do Canadá e dos Estados Unidos. 

Figura 5: Distribuição dos Coeficientes de Correlação com a Promessa de Pesca Por País

Figura 6: Distribuição dos Coeficientes de Correlação com a Petição de Peixe Por País

Figura 7: Distribuição dos Coeficientes de Correlação com a Promessa de Frango Por País

Figura 8: Distribuição dos Coeficientes de Correlação com a Petição de Frango Por País